Opinião Pessoal XL

Artigo de opinião publicado no “Diário de Notícias” 9 outubro 2024

Comemorámos, há poucos dias, duas datas importantes para todos nós, se bem que uma e outra tenham significados diferentes. Ambas representam, para mim, um entusiasmo interior de emoções agradáveis, mas difíceis de explicitar.

Por ordem cronológica, referir-me-ei a 4 de Outubro de 1899 e ao 5 de Outubro de 1910. A primeira data, corresponde à criação da Direção-Geral da Saúde (DGS), há 125 anos e a segunda, à proclamação da República há 114 anos.

1. Sobre a DGS, realço que a sua institucionalização está associada à Peste do Porto que foi identificada por Ricardo Jorge (1858-1939) no Verão de 1899. Ricardo Jorge desempenhava, então, funções de delegado de saúde a nível municipal. O Governo do rei Carlos de Bragança temeu o pior cenário. Os seus conselheiros admitiam como possível a propagação da peste bubónica a todas as províncias do Reino. As notícias chegadas a Lisboa eram inquietantes. Cada vez mais agravadas por descrições de terror das antigas epidemias medievais de peste negra que alguns insistiam em relembrar. Na tentativa de ganhar tempo, a cidade do Porto foi isolada por um cordão sanitário, erguido a partir do dia 24 de agosto. Os soldados dos batalhões de Infantaria e Cavalaria, mobilizados para o efeito, impediam a entrada e saída de pessoas. A célebre cerca sanitária incluía, igualmente, a navegação e a pesca. A burguesia portuense (comerciantes), perante a progressiva redução dos respetivos negócios, forçou a saída de Ricardo Jorge do Porto. Ainda antes da Epidemia acabar, o Governo criou a DGS e nomeou João Ferraz de Macedo (1838-1907) como Diretor-Geral. Terá para tal, tido a colaboração de Ricardo Jorge.  Ferraz de Macedo era um eminente professor da Escola Médico Cirúrgica de Lisboa.

Mais tarde, por proposta de António José de Almeida, em 1911, Ricardo Jorge foi nomeado Diretor-Geral. Viria a reformar a Saúde Pública e a liderar o controlo da Pandemia de 1918 que designou de “Pneumónica”.

2. A segunda comemoração destinou-se a assinalar a implantação da República a 5 de Outubro de 1910. No plano pessoal, não poderei esquecer a forma como este dia era festejado em casa de meu Avô materno. Ele mesmo, contava-nos, com satisfação, que na madrugada do dia 4 de Outubro, apresentou-se, como voluntário, no Centro Escolar Democrático à Rua de Campo de Ourique, nº 93, para integrar o corpo de civis revolucionários.

Machado dos Santos, em tom de comando, dirige-se junto de meu Avô e diz-lhe:

– Ó Gil levas esta espingarda, vais à Rotunda e juntas-te à brigada que irá guardar a Casa da Moeda!

– Ó Comissário, eu nunca peguei em espingardas!

– Ó Gil, não faz mal, pões a espingarda ao ombro e andas para trás e para diante.

Francisco George
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