Artigo de opinião publicado no “Diário de Notícias” 31 julho 2024
Ainda sobre VIH/SIDA.
Antes de tudo, há que distinguir duas condições diferentes: 1 as pessoas infetadas pelo VIH, mas ainda não doentes; 2 os doentes com SIDA. As primeiras são designadas como seropositivas (não apresentam sintomas) e as segundas têm manifestações clínicas que surgiram no final do período de incubação.
As análises reconhecem a presença de anticorpos contra o VIH no soro das pessoas sero+ (daí a designação sero e de positivo), mas as pessoas não sentem alterações do estado de saúde: estão aparentemente saudáveis, mas podem transmitir o vírus.
Estes anticorpos que circulam no sangue são produzidos pelos glóbulos brancos (linfócitos) depois dos vírus terem penetrado no organismo. É a resposta imunitária de defesa à infeção. As análises comuns revelam a presença de anticorpos (não de vírus), sendo, por isso, necessário dar tempo (algumas semanas) até à sua formação: é o período de janela, caracterizado por análises negativas, mas com a pessoa já infetada.
Ao contrário da generalidade das infeções virais, o VIH ao infetar qualquer pessoa nunca mais será eliminado. A maioria das vezes, a infeção VIH surge no seguimento de uma relação sexual não protegida (quando um dos parceiros está infetado pelo VIH ou doente).
Preciso.
Todos sabiam, desde cedo, que o risco em adquirir VIH/SIDA é tanto mais alto quanto maior é o número de parceiros sexuais.
Nessa altura, a morte dos doentes era resultado de uma penosa evolução da doença incurável.
A debilidade da imunidade dos infetados pelo VIH e dos doentes com SIDA fez regressar a tuberculose com carater explosivo.
Passou-se, então, a falar de três grandes epidemias que emergiram quase simultaneamente, mas interrelacionadas entre si. Dir-se-ia, com mais propriedade, que eram tês pandemias, visto que se propagaram ao mesmo tempo em vários continentes.
Essas pandemias eram, na altura, as seguintes:
1. A seropositividade (pessoas com análises positivas, mas não doentes e sem saberem quando iriam surgir as manifestações clínicas);
2. A doença provocada pela infeção que, na altura, iria, invariavelmente, provocar a morte;
3. A epidemia na dimensão psicossocial representada pelo medo da doença e que motivou comportamentos inaceitáveis de discriminação em relação aos infetados e doentes.
Em 1987, o novo medicamento (AZT) começou a alterar o panorama. Com a viragem do Milénio aquelas três pandemias viriam a ser controladas. Hoje, a introdução de novos medicamentos permitiu transformar a SIDA: de doença aguda que provocava a morte passou a ser uma doença de evolução crónica (tal como a hipertensão arterial, por exemplo).
Francisco George
franciscogeorge@icloud.com
PS: Estarei de férias em Agosto. Regresso na primeira quarta-feira de Setembro.