Opinião Pessoal (XXXIII)

Artigo de opinião publicado no “Diário de Notícias” 24 julho 2024

Ainda sobre VIH/SIDA.

Como já escrevi, em Bissau, a notícia da confirmação pela OMS que os mosquitos não transmitiam a “infeção mistério” foi assinalada por um jantar comemorativo. O ambiente do “Hotel 24 de Setembro” era belíssimo. Nesse dia, o gerente, um simpático espanhol das Canárias, esmerou-se na ementa: castanha de caju assada e camarões cozidos, como entradas; depois, serviu sopa de ostras (pitchpach) e chabéu de peixe com arroz branco; no fim, magníficas mangas e papaias. As bebidas incluíam cerveja guineense “Cicer” e sumos tropicais.

Assim sendo, sem os mosquitos como vetores, concluiu-se que a infeção era evitável. Para tal, as relações sexuais com parceiros tinham que ser protegidas por preservativos.

Só mais tarde, em 1983, viria a ser esclarecida a causa que originava a deficiência do sistema imunitário. Essa descoberta deveu-se ao francês Luc Montagnier (1932-2022) que era um prestigiado cientista do Instituto Pasteur de Paris. Foi ele que identificou o novo vírus que tinha a capacidade de invadir e destruir os glóbulos brancos (linfócitos) produtores de anticorpos (por isso, a deficiência do sistema imunitário). Por outras palavras, eram os novos vírus que penetravam e destruíam os glóbulos brancos como se fossem “ladrões a invadirem as esquadras da polícia”, visto que são esses glóbulos sanguíneos que, em condições normais, devem proteger o organismo das infeções (e de doenças oncológicas).

Todavia, a descoberta do francês Montagnier não foi pacífica porque quase ao mesmo tempo o americano Robert Gallo criou um teimoso ambiente de controvérsia à volta da descoberta do vírus ao pretender chamar a si os louros da sua identificação.

Olhando para trás, percebe-se que a acesa disputa entre o europeu e o americano sobre a autoria da descoberta do vírus da SIDA poderá ter sido empolada, mas o certo é que o Nobel da Medicina foi atribuído, em 2008, a Luc Montagnier e não a Robert Gallo. Um desempate tardio?

No começo (1983), os vírus descobertos receberam designações diferentes de Montagnier e de Gallo. O primeiro chamou-lhe LAV (Limphadenopathy Associated Virus) e o segundo, designou o mesmo vírus como HTLV-3 (Human T LInphotropic Virus). Só em 1985 o Comité de Taxinomia decidiu que esses vírus eram idênticos e como tal, passou a receber a denominação oficial de VIH (Vírus da Imunodeficiência Humana) e a doença que provoca SIDA (Síndrome de Imunodeficiência Adquirida).

A nomenclatura uniformizada do vírus e da doença a que dá origem, explicita que o vírus infecta seres humanos e que a imunodeficiência é adquirida após a entrada do VIH no organismo.

Mas, o que acontece depois do VIH entrar no organismo?

(continua)

Francisco George
franciscogeorge@icloud.com